segunda-feira, 22 de junho de 2015

Ainda a exposição de Lúcio

O acto que teve por consequência os dez anos de prisão -- sem haver cometido crime algum e sem alegação disso mesmo em tribunal, pois ninguém o acreditaria --, esse acto reveste-se da excepcionalidade que caracterizam os protagonistas, de tal forma que é apresentado como o clímax duma vida, que, a partir daí, nada de comparável poderia experimentar e nenhuma outra experiência se lhe pode aproximar, diferençando-se, assim, o(s) sujeito(s) dela(s) das existências vulgares:

«Vibradas as sensações máximas, já nada nos fará oscilar. Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou -- apenas -- os desencantados que, muita vez, acabam no suicídio.»

Mário de Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio (1914)

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