segunda-feira, 26 de outubro de 2015

microleituras

Há quem considere Mário António (Fernandes de Oliveira, 1934-1989) o maior poeta angolano. Amor (1960) abriu a «Colecção de Autores Ultramarinos» da mítica CEI -- Casa dos Estudantes do Império. A simplicidade da edição é quase comovente. Dentro, meia dúzia de poemas que cantam o amor e a saudade dele, por vezes com acentos camonianos.






SONETO

Não invoquei o sonho para amar-te.
Não te mudei o nome nem a face
nem permiti que nada transformasse
minha imagem de ti em forma de arte.

Não te menti em nada. Para dar-te
a imagem do que eras (Um enlace
perfeito e harmonioso é o que dá-se
entre quem és e o esforço de cantar-te)

só deixei que os meus olhos te mostrassem
como o fundo de um poço ou como chama
onde secretas imagens perpassassem

as estrelas e as flores, o fogo e a lama
todo o mudo pudor que nunca há sem
os olhos destruídos de quem ama.

ficha
Autor: Mário António
título: Amor
edição: 2.ª
editor: UCCLA-União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa / Sol
local: Lisboa
ano: 2014
impressão: Fotocompográfica, Almada
capa: Henrique Abranches
págs.: 23
tiragem: 45000

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